domingo, 3 de janeiro de 2016

AUMENTOS NAS PASSAGENS DE ÔNIBUS FINANCIAM SISTEMA CARO E DECADENTE

O modelo de sistema de ônibus implantado em Curitiba em 1974 e que foi "consolidado" pouco depois em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza e Porto Alegre, além de ser tardiamente implantado em cidades como Rio de Janeiro e Recife, está decadente, embora as autoridades não "larguem o osso" e tentem manter esse modelo na marra.

Como quem troca seis por meia-dúzia, tentando "mudar" para permanecer o mesmo, várias cidades tentaram mudar o leiaute da pintura padronizada, mantendo a medida confusa e nada transparente de colocar diferentes empresas exibindo um mesmo visual, só que com uma estampa diferente.

São Paulo, Goiânia, Porto Alegre, Fortaleza e São Luiz foram algumas das cidades que trocaram a "máscara" da pintura padronizada - no caso da capital paulista, o fundo branco foi substituído pela cor prata - , como um apelo desesperado para manter a medida, a cada dia repudiada pelos passageiros e com o fracasso cada vez mais confirmado.

A pintura padronizada pode não ser o único aspecto desse modelo decadente, que é marcado por medidas antipopulares feitas sob a promessa de que "tudo vai melhorar" com o sensacionalismo de ônibus longos, com ar condicionado e chassis de indústrias de origem sueca, como Scania e Volvo. Como se "trens do asfalto" refrigerados e com chassis suecos fossem resolver os problemas. Mas eles não resolvem, só camuflam o decadente sistema de beleza e espetáculo.

Os recentes aumentos das passagens de ônibus nas cidades, que aproximam os valores das tarifas a R$ 4, o que representa cerca de R$ 240 que sairão dos bolsos dos trabalhadores médios no total consumido do mês, correspondendo a cerca de 27% do atual valor do salário mínimo, se destacam pela situação de decadência em que se encontram os sistemas de ônibus herdados pelo "modelo Lerner".

Hoje deixa de ser considerado tendência amarrar empresas de ônibus diferentes numa mesma pintura. Isso, comprovadamente, não traz funcionalidade, não traz transparência, contraria o interesse público e traz mais custos e burocracia.

Em Belo Horizonte, há empresas de ônibus que servem linhas municipais para várias zonas, e que também operam em outros municípios de sua região metropolitana, além de linhas intermunicipais destas cidades à capital mineira.

Se a pintura padronizada coloca diferentes empresas de ônibus sob uma mesma pintura, ela também "racha" uma mesma empresa em diferentes pinturas. E isso complica as administrações e os custos de repintura dos veículos, quando as empresas têm que deslocar carros de um serviço intermunicipal para municipal ou deslocar carros de um município para outro.

Isso consiste em mais burocracia, porque o processo fica mais demorado, envolvendo registro de mudança de consórcio, controle rígido demais das secretarias de Transportes, mais dinheiro para imprimir documentos e tudo o mais. Isso pesa nos custos dos sistemas de ônibus e a pintura padronizada contribui para o encarecimento do transporte coletivo.

Tudo fica muito complicado. Até os letreiros digitais, com sua overdose de informações, não são o meio adequado para compensar a falta de identidade visual e mostrar o nome da empresa. Em muitos casos, os letreiros desperdiçam tempo colocando saudações como "Feliz Natal" e "Bom Dia", tirando o tempo de mostrar o destino de cada linha de ônibus.

As pessoas ficam transtornadas. Elas levam mais tempo para diferenciar uma empresa de outra, pois elas têm a mesma pintura. Correm para ver o letreiro digital, que às vezes mostra a informação direta do destino, mas em outras não. E, em cidades como o Rio de Janeiro, empresas chegam a não exibir os destinos ou o número da linha nas partes lateral e traseira, o que torna as coisas mais difíceis.

O prejuízo que o sistema de ônibus provoca também nas indenizações trabalhistas que as empresas têm que arcar com os cobradores que, sob o silêncio da mídia, são demitidos em massa por causa da dupla função do motorista-cobrador, também remetem a mais custos para o "modelo Lerner" que os políticos tentam manter à força.

As frotas estão cada vez mais sucateadas. A corrupção político-empresarial ocorre, com empresas trocando de linhas e de nomes sem que os passageiros percebam, sem falar que hoje os empresários de ônibus, para compensar a proibição de exibirem as identidades respectivas de suas companhias, podem manipular a máquina eleitoral em favor de seus interesses de classe.

A decadência dos sistemas de ônibus no Rio de Janeiro, Florianópolis, Niterói e Recife se tornam evidentes. Os ônibus estão sucateados, as empresas demoram a renovar suas frotas e espera-se bem mais pela chegada de ônibus em várias linhas importantes. Os acidentes se tornam mais comuns e os ônibus, mesmo novos, enguiçam com muito mais frequência do que antes.

O autoritarismo das secretarias de Transporte também reflete na decadência. Um órgão que deveria fiscalizar acaba mandando no sistema, uma confusão comparável a de confundir um porteiro de prédio com um síndico. 

O secretário de Transportes virou um tirano, com poderes concentrados, esquecendo-se de que brincar de ser "administrador de ônibus" lhe custa caro pelas responsabilidades pesadas que ele acumula sobre as empresas de ônibus. Além disso, nada impede que o secretário também se transforme em marionetes de empresários de ônibus, porque esse modelo "partidariza" o sistema de ônibus, com total prejuízo para os passageiros.

Enfim, são muitos e muitos desastres que o "modelo Lerner" apresenta em várias cidades do país - principalmente Curitiba, com uma decadência vertiginosa marcada até por acidentes, vários deles trágicos - que os aumentos das passagens são uma forma de tentar cobrir seus prejuízos. 

O que se sabe é que o sistema só não é obsoleto porque as autoridades não deixam, mas a verdade é que esse modelo tecnocrático de transporte por ônibus está com uma decadência irrecuperável, que não é a mudança de estampa na pintura padronizada e na compra de "super-ônibus" por puro sensacionalismo que irão salvar esse modelo. A decadência não tem freio.

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